Criando e contando histórias!...

Criando e contando histórias!...

Blog Literário


O objetivo deste Blog consiste na divulgação de textos literários e de atividades de contação de histórias da escritora Kate Lúcia Portela. Além do desejo de encantar, empolgar, emocionar, cativar, informar, formar, reformar e transformar este blog tem a finalidade de incentivar a prática da leitura prazerosa!... Aproveite o ensejo para conhecer um pouco mais sobre essa escritora, acompanhando algumas de suas atividades artísticas e culturais. Vale a pena conferir!...



quinta-feira, 29 de setembro de 2011

O papagaio que ensinava português (Kate Lúcia Portela)

Era uma vez...
Opa!
Era uma vez, não! Eram várias vezes...
O papagaio Clarinho repetia várias vezes as palavras que a professora Norminha lhe ensinava:
LEITURA, LEITURA, LEITURA...
ESCRITA, ESCRITA, ESCRITA...
POESIA, POESIA, POESIA...
HISTÓRIAS, HISTÓRIAS, HISTÓRIAS...
TEATRO, TEATRO, TEATRO...
Essas palavras mágicas estavam relacionadas ao estudo da nossa língua portuguesa.
Com a dona Norminha, Clarinho aprendeu que a língua muda de acordo com o tempo, com o lugar, com as pessoas, com as situações... Parece difícil, mas não é...
O papagaio Clarinho aprendeu bem essa lição quando conheceu outro papagaio: o Dourado.
Dourado vivia feliz, mas não para sempre, numa casinha de telha, numa rua de lama e esgoto, onde moravam um pai, uma mãe e umas crianças. Lá, a pobreza sempre aparecia no plural, pois era pobreza de educação, pobreza de saúde, pobreza de comida, pobreza de segurança, pobreza de emprego, pobreza de esportes... pobrezas.
Um dia, uma coruja o incentivou a procurar por uma escola, onde poderia receber uma educação de qualidade.
Aí, ele partiu.
Durante a viagem, fez amizade com um passarinho que tinha o sonho de conhecer o circo, com um gato que tinha o sonho de conhecer o zoológico, com um cachorro que tinha o sonho de conhecer um parque de diversões...
Quando chegou à cidade grande, estava ansioso por encontrar uma escola. Posou em um palanque, onde havia um microfone:
─ Inducação, Inducação! ─ falou Dourado.
As pessoas da praça, por um momento, pareciam estátuas.
Então, elas começaram a rir de Dourado.
─ Não é inducação, é educação! Você fugiu da escola, senhor Papagaio? ─ disse um homem de terno e gravata.
Neste momento, o papagaio Clarinho apareceu e fez a defesa de Dourado.
─ Vocês estudaram tanto somente para ficar rindo das pessoas que não tiveram a mesma oportunidade que vocês? Todos têm condições de aprender, sabiam?
As pessoas se sentiram envergonhadas e se retiraram.
Clarinho e Dourado ficaram amigos e trocaram saberes.
Clarinho ensinou para Dourado as palavrinhas mágicas do ensino da língua portuguesa: LEITURA, ESCRITA, POESIA, HISTÓRIAS, TEATRO.
Dourado ensinou para Clarinho brincadeiras muito divertidas, como corda, bolinha de gude, bambolê, catavento, barquinhos de papel, patinete, bolinhas de sabão, pipa...
Até que um dia eles resolveram conhecer a escola da dona Norminha.
Fizeram uma viagem ao Planeta-Escola.
Decolaram rumo ao Universo do Conhecimento!...
Dourado, após um tempo, acabou indo embora, mas deixou uma mensagem para Clarinho:


Clarinho,
Educação. Essa palavra resume a minha história com você. Uma história que é uma aula de português. Leitores como você e eu são como escolas, por isso volto para minha cidade.
Dourado

domingo, 25 de setembro de 2011

Diário de Sherazade VII

Querido diário,

Nessa semana, pedi que as crianças imaginassem o que havia dentro de uma caixa que compunha o cenário da história. Elas se mostraram muito inventivas: boneca, bola, bicicleta, anjo, nuvem, árvore, flor, folhas, pizza, livro e outros.
Acredito que a contação de histórias enriquece o potencial criativo das pessoas e sou plenamente a favor de uma pedagogia do imaginário nas escolas.
Considero as crianças como coautoras das histórias, pois elas imaginam personagens, cenários, figurinos... e não são obrigadas a ver as cenas de um modo previamente determinado. Considero isso uma prática valiosa, sobretudo em meio à ditadura visual que impera, por vezes, no mundo.
Muitas escolas não valorizam a criatividade, mas a repetição das ideias. Precisamos dar valor ao lúdico, à interação, à iniciativa dos alunos.
Contar histórias é brincar com as palavras, com a fantasia e com a imaginação!
Na atividade que propus, de se imaginar o conteúdo da caixa, não havia uma resposta certa, mas inúmeras possibilidades de resposta.
Uns se mostraram sensíveis com relação à natureza, outros imaginaram alimentos, alguns imaginaram algo cultural ou brinquedos que marcavam sua infância.
Li que seria relevante pedir às crianças, talvez as maiores, para inventarem um novo final para a história, após a contação. Ou pedir para imaginarem como seria a história na perspectiva de um personagem secundário. Acho que seriam bons exercícios de criatividade...
Certa vez, um menino me chamou em sua carteira, logo depois que eu contei uma história para sua turma. Ele estava rascunhando uma história, que estava inventado com base no meu repertório!
Infelizmente, muitos ainda acreditam que a criatividade é um dom de poucos privilegiados, que não pode ser desenvolvido ou aprimorado...
A contação de histórias leva o imaginário às escolas e outros ambientes, convidando todos ao exercício da criatividade por meio da viagem literária que se promove.
Ela desperta o interesse, a curiosidade, pois lida com o inesperado, o inusitado, o novo. Não se calca em um saber pronto, compartimentado.
Mas bons ventos estão sempre trazendo novas histórias!
Então, precisamos simplesmente in...ventar!

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

De macacos, bananas e histórias (Kate Lúcia Portela)

Era uma vez um macaco.
Mas não era um macaco como os outros...
Esse macaco não queria comer bananas.
As pessoas, porém, sempre jogavam bananas para o macaquinho.
Algumas bananas até acertavam a sua cabeça. Quando isso acontecia, o macaco ficava muito, muito chateado.
Fazia birra, fazia manha, fazia dengo.
─ Por que não me dão livros? Por que não me dão brinquedos? Por que não me dão um violão? Por que não me dão uma flor? Por que não me dão uma nuvem ou uma estrela? Por que não se dão? ─ indagava o macaco.
Até que um dia, ele conheceu uma criança adorável.
Em vez de lhe jogar uma banana, ela lhe jogou um beijo.
Logo, logo ficaram amigos.
Brincaram de pique-esconde com a lua, brincaram de pique-pega com os cometas, brincaram de pique-alto com as estrelas.
Jogaram amarelinha, jogaram peteca, jogaram bola e sempre venciam o jogo da diversão.
Fizeram barquinhos de papel para navegar no mar da fantasia e aviõezinhos de papel para desvendar o céu de magia.
Leram as histórias da carochinha de trás pra frente.
Cantaram alegremente com as cigarras e trabalharam alegremente com as formigas.
A criança descobriu que aquele macaquinho tinha fome de imaginação.
E eles ficaram ainda mais amigos.
Mas, após brincar tanto e comer tão pouco, o macaco ficou doente.
Então, ele se lembrou das bananas que aquelas pessoas bondosas jogavam para ele, querendo agradá-lo, querendo lhe fazer um carinho de uma maneira especial.
Quando souberam que o macaco estava doente, elas foram visitá-lo, juntamente com a criança que brincava sempre com ele.
Com tanto carinho, com tantas bananas, o macaco ficou bom.
E saiu pelo mundo contando sua história, para que as crianças não ficassem doentes por falta de bananas, para que as crianças não ficassem doentes por falta de histórias...