Criando e contando histórias!...

Criando e contando histórias!...

Blog Literário


O objetivo deste Blog consiste na divulgação de textos literários e de atividades de contação de histórias da escritora Kate Lúcia Portela. Além do desejo de encantar, empolgar, emocionar, cativar, informar, formar, reformar e transformar este blog tem a finalidade de incentivar a prática da leitura prazerosa!... Aproveite o ensejo para conhecer um pouco mais sobre essa escritora, acompanhando algumas de suas atividades artísticas e culturais. Vale a pena conferir!...



terça-feira, 27 de novembro de 2012

Diário de Sherazade X

Querido diário,

Estou lendo artigos sobre contação de histórias e selecionei algumas possíveis definições para essa arte:
• “Contar histórias é encantar, significar o mundo que nos cerca, materializando e dando forma às nossas experiências.”
• “Contar histórias é um instrumental capaz de servir de ponte para ligar as diferentes dimensões e conspirar para a recuperação dos significados que tornam as pessoas mais humanas, íntegras, solidárias, tolerantes, dotadas de compaixão e capazes de estar com...”.
• “Contar histórias é um ato social e coletivo, que se materializa por meio de uma escuta afetiva e efetiva.”
• “Contar uma história é tornar-se a própria história.”
• “Contar histórias é sentir-se vivo, capaz de transformar uma história pessoal numa epopeia , uma narrativa essencial.”
• “Contar histórias é uma experiência compartilhada.”
• “Contar histórias não é fazer teatro, é se entregar ao ‘olho no olho’, à intimidade e cumplicidade com o ouvinte.”
• “Contar histórias é transformar o corpo num objeto de arte.”
• “Contar histórias é despertar o riso e combater as forças opressoras.”
• “Contar histórias é uma arte, uma necessidade humana.”
• “Contar histórias é agregar ouvintes, seja na rua, na praça...”
• “Contar histórias oferece indagações, questionamentos, alegria, riso, descontração, aproximação, harmonia, fraternidade.”
• “Contar histórias é compor um espetáculo de arte.”
• “Contação de histórias é a atividade que consiste em transmitir eventos na forma de palavras, imagens, e sons muitas vezes pela improvisação ou embelezamento.”
• “Contar histórias é um meio muito eficiente de transmitir uma ideia, de levar novos conhecimentos e ensinamentos.”
• “Contar histórias é um meio de resgatar a memória.”
• “Contar histórias é ser um bom ouvinte de si mesmo, dos outros e do mundo.”
• “Contar histórias é fazer da história, e não do contador, a estrela principal do espetáculo.”
• “Contar histórias é estimular a criatividade, a magia, a fantasia.”
• “Contar histórias é fazer uma ginástica imaginativa.”
• “Contar histórias é viajar sem nem sair do lugar.”
• “Contar histórias é uma arte popular.”
• “Contar histórias não é um ato puramente intelectual, mas espiritual e afetivo.”
• “Contar histórias é lançar fios invisíveis que nos unem numa só rede.”

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

O polvo letrado

Era uma vez, sempre uma vez, um polvo.
Mas não era como o seu povo.
Era letrado.
Em seus bracinhos, apenas um livro.
Com ele, viajava pelos sete, oito, nove, dez mares...
E tinha o mundo em suas ‘mãos’.
Gostava de admirar a natureza.
Era sensível e sonhador.
Porém, os outros polvinhos eram diferentes.
Estavam sempre muito ocupados.
Em cada braço, um objeto diferente: conchas, pedaços de recifes, algas, computadores-sea, vídeo games aquáticos e outros, muitos outros...
Estavam sempre muito ocupados.
Faziam cursos de corrida aquática, culinária do mar, gestão e liderança marítimas e outros, muitos outros...
Estavam sempre muito ocupados.
Enfim, não tinham tempo para a imaginação, a fantasia.
O polvinho letrado vivia isolado.
Era motivo de risos.
- Onde já se viu um polvo usar apenas um braço?... – diziam uns polvinhos.
- Preguiçoso! – falavam outros.
Apesar disso, o polvo letrado era feliz em seu mundo.
Mundo vasto.
Um oceano profundo de livros.
Seu maior sonho era se tornar um escritor.
Quando cresceu e seus pais faleceram, ele resolveu sair pelo mundo em busca de seu autor predileto, que havia escrito a obra ‘O polvo maluquinho’, um polvinho que vivia com uma concha na cabeça.
Então, ele partiu.
A viagem lhe pareceu longa.
Percorreu muitos mares.
Apreciou baleias, tartarugas, cavalos-marinhos, lulas, lagostas, tubarões, focas, golfinhos, estrelas-do-mar, camarões...
Dizem que viu até sereias.
Até que, finalmente, conseguiu encontrar seu escritor favorito.
Ele estava cuidando de suas algas, nos jardins de sua casa.
E rodeado de polvos, seus amigos.
Ninguém impediu o polvo letrado de entrar, todos eram convidados a entrar.
Entrar na vida do escritor.
E fazer parte de sua obra.
Quando pôde dar mais atenção ao jovem polvo, o escritor revelou que amava escrever e desenhar, ilustrar suas histórias.
- E qual é o grande segredo dos escritores?
- Gostar de polvos!
O jovem polvo ficou intrigado.
- Por quê?
- Porque nos faz bem amar, partilhar. E porque os polvos são fontes de inspiração para nossas histórias, polvos que riem e choram, lutam e desistem, amam e odeiam, vivem tristes e felizes... ou simplesmente vivem, esse é o mistério de todas as histórias!
O polvo letrado compreendeu a lição.
- Entre no mundo dos polvos, faça parte de sua história!- finalizou o escritor.
Só restava ao polvinho voltar para casa.
Então, ele partiu.
A viagem lhe pareceu lenta.
Percorreu muitos mares.
Apreciou muitas lembranças.
A mãe lhe preparando um mingau de crustáceos, o pai lhe ensinando a ler, os carinhos da avó, as broncas do avô, as brincadeiras com os primos e a zombaria dos amigos.
Quando regressou ao lar, encontrou os polvos ocupados, como sempre.
Mas o polvo letrado tinha um planinho literário.
Começou a contar as histórias do Polvo Maluquinho.
No princípio, ninguém ligava.
Mas, com o tempo, os outros polvinhos paravam tudo o que estavam fazendo para ouvir as histórias...
E começaram a gostar de livros.
E a amar o bisonho e o poético.
E ficaram meio maluquinhos também.
Começaram a cantar desafinado.
Começaram a plantar bananeiras.
Começaram a colecionar parlendas.
Começaram a inventar uma Polvolândia.
E acabaram poetas.
Mas a história do polvo letrado não terminou...
Ele passou a criar suas próprias histórias.
Histórias que atravessaram os oceanos, os mares, os rios, as lagoas, os lagos, as cachoeiras, as poças d’água... os pingos d’água.
E o polvo finalmente se tornou um escritor.
Letrado?
Amado!...

domingo, 18 de novembro de 2012

Minhas reflexões...

Amor é uma saudade permanente de quem está perto de você!...

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Alberto e Bernardo


“É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã.” (Renato Russo)
Você conhece a história de Alberto e Bernardo?
Ela está registrada no livro infantil “Eles que não se amavam”.
Havia, entre esses personagens, um abismo.
Eles se odiavam e seu ódio se espraiou por suas famílias, amigos, conhecidos.
Até que veio a guerra, a destruição.
Mas eles terminam por fazer um pacto de papel, para assinarem um acordo pela paz.
Assinado pelo coração.
Essa história, do escritor e contador de histórias Celso Sisto, é um convite para refletirmos sobre a paz, nas nossas salas de aula.
A violência atual é, realmente, uma calamidade e tem atingido inclusive as escolas. Existe toda uma cultura de agressão, desde a verbal até a física, entre professores, entre alunos e entre professores e alunos.
A saída, como sempre, é a educação, a conscientização.
E livros como esse podem ser usados para fundamentar debates.
Ou cantigas de roda como “o Cravo e a Rosa”.
Ou poemas como este de Mário Quintana:
“Guerra
Os aviões abatidos
são cruzes
caindo do céu.”
Já pedi que alunos do 6º ano ilustrassem esse poema e o resultado me surpreendeu: uma aluna desenhou os aviões, que se chocavam e formavam cruzes que compunham os túmulos.
Então, podemos falar de algumas guerras diárias: em casa, no trânsito, nas filas dos bancos, nas salas de aula, nos supermercados, nos bares...
Conheço uma música que diz ‘a paz no mundo começa em mim’.
Podemos citar Gandhi, como um exemplo de alguém que lutou pela paz, por uma cultura de não-violência. Pesquisar sua biografia, assistir a um filme sobre sua vida.
É interessante usar a tela “Guernica”, de Pablo Picasso, cujo tema é o bombardeio sofrido pela cidade espanhola de Guernica em 26 de abril de 1937 por aviões alemães, apoiando o ditador Francisco Franco.
Enfim, dialogar, nas salas de aula do Brasil, com as múltiplas manifestações artísticas que retratam a dicotomia guerra × paz.
E mostrar que a arte pode ser engajada, com um compromisso de transformar o mundo, nem que seja nosso mundo interior.
Eu proporia uma reescritura da história de Celso Sisto, a partir da mudança do título:
Eles que se amavam...
Entre eles, certamente existiria uma ponte.
Sejamos, como professores, uma ponte entre os alunos e o conhecimento, entre os alunos e o mundo da cultura, entre os alunos e o mundo da ética!


domingo, 4 de novembro de 2012

Diário de Sherazade IX

Querido diário,
Ontem, tive a oportunidade de assistir ao filme “Narradores de Javé”.
Amei!
Fiquei refletindo que, de algum modo, todos somos Biás, aqueles que ouvem as histórias dos outros...
Recordei-me de alguns ‘causos’ que chegaram até mim, sem o compromisso do sigilo:
O da amiga traída que, ao perguntar à colega o motivo da traição, recebeu como resposta, “eu achei que você fosse tão legal e, por isso, não iria se importar se eu a sacaneasse...”
O do meu amigo que foi parado por um policial, o qual revistou o seu carro e se deparou com um cavaquinho. Desconfiado, pediu que meu amigo o tocasse e meu colega teve que fazer um ‘showzinho’ particular para o homem da lei...
O do rapaz que tinha um pintinho de estimação que, quando cresceu, a mãe colocou na panela. Ele comeu o frango, com lágrimas nos olhos, mas comeu...
O da senhora que dizia ter sempre sete tipos de pudins na geladeira, para o deleite da família, além da casa brilhando e da ‘obrigação’ de esposa sempre em dia com o marido...
O do morador de rua que salvou um homem vitimado por um acidente de carro, com o ‘auxílio'do corpo de bombeiros...
O da mãe de família que não sabia preparar mingau de amido de milho e dizia para os filhos que fazia ‘mingau de bolinhas’(e eles adoravam!)...
O da menina faminta que levava para a escola uma caneca grande para a sopa, que destoava das dos amigos, os quais passaram a chamá-la de Maria Canecão...
O caso da mãe que foi levar o filho para ‘tirar sangue’ e o menino deu um ataque em público, pois achou que lhe tirariam todo o sangue e ele morreria...
O do garotinho que fez uma redação, a qual a professora rasgou e atirou em sua cara, dizendo que estava ‘horrível’...
O da mãe que pediu para a filha escolher o cardápio de domingo, se preferia estrogonofe ou carne assada e que, no dia, tiveram que comer ovo, pois o pagamento do pai não saíra...
O da mãe, cujas crianças não queriam comer arroz com feijão, que começou a fazer bolinhos mágicos de arroz, feijão e carne moída para as crianças comerem...

Como é bom recontar histórias que ouvimos dos outros (com sua autorização)!
Ser um ‘recontador’ de histórias!...
Experimente!