Criando e contando histórias!...

Criando e contando histórias!...

Blog Literário


O objetivo deste Blog consiste na divulgação de textos literários e de atividades de contação de histórias da escritora Kate Lúcia Portela. Além do desejo de encantar, empolgar, emocionar, cativar, informar, formar, reformar e transformar este blog tem a finalidade de incentivar a prática da leitura prazerosa!... Aproveite o ensejo para conhecer um pouco mais sobre essa escritora, acompanhando algumas de suas atividades artísticas e culturais. Vale a pena conferir!...



quarta-feira, 28 de abril de 2010

A dúvida: história ou História?

Quando meu amigo Dúvidson era um garoto, ele tinha muita dificuldade em tomar decisões.
A mãe perguntava.
― Você quer café ou leite?
Dúvidson pensava, mas não um pouco.
― ... ... ... ... ... ... ... ... ... café com leite!
A mãe perguntava.
― Você quer bolo ou sorvete?
Dúvidson pensava, mas não um pouquinho.
― ... ... ... ... ... ... ... ... ... bolo com sorvete!
A mãe continuava perguntando.
― Você quer banana, maçã ou mamão?
Dúvidson continuava pensativo.
― ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... salada de frutas!
Dúvidson tinha esse jeitinho todo especial de escolher as coisas...
Contudo, quando ele se tornou um adolescente, essa dificuldade de tomar decisões se tornou um grande problema para ele. Às vezes, ele tinha que pensar muito até chegar a uma conclusão, embora em algumas poucas ocasiões ele se decidisse mais rapidamente. No entanto, uma dúvida não lhe saía da cabeça: o jovem não sabia que caminho seguir em sua vida. Por isso, ele resolveu pedir a ajuda de seu avô, que tinha grande sabedoria.
― Dúvidson, você pode escolher o seu próprio caminho. Quando tiver dúvidas, quero que reflita em torno de um belo ensinamento trazido por um grande Mestre, que nos aconselhou a fazer aos outros aquilo que gostaríamos que os outros nos fizessem.
Um dia, Dúvidson se encontrava na escola. O professor estava finalizando sua aula de História.
― Turma, amanhã, nós teremos um teste surpresa.
Os alunos riram. O professor gostava de brincar com eles.
― Pessoal, agora é sério. Amanhã, nós teremos um teste. Vocês precisam estudar bastante. Será uma redação envolvendo a matéria...
Dúvidson não teve dúvidas nessa hora: resolveu ir correndo para casa estudar. Entretanto, no meio do caminho, havia uma criança.
Uma criança suja.
Uma criança faminta.
Uma criança sem infância.
Nem parecia uma criança.
― Ei, eu tenho fome. Minha mãe está doente. Nós somos muito pobres. Um homem roubou minha caixa de chicletes, roubou meu trabalho, roubou meu sustento.
Uma criança?...
Dúvidson não sabia o que fazer. Ele precisava estudar História. Uma criança pedia sua ajuda. O jovem lembrou-se das palavras de seu avô: e se fosse ele, no lugar da criança?...
― Eu tenho um pacote de biscoitos fechado, na minha mochila, menina. Mas, agora, conte-me a sua história...
Dúvidson não chegou muito cedo a casa. Ele não tirava aquela história da cabeça, mas ainda assim estudou História.
No dia seguinte, ele sentou-se na primeira carteira. Dúvidson estava preocupado com a prova, mas havia um sorriso em seu coração. Ele ajudara alguém. O professor de História distribuiu o teste.
― Turma, nossa redação será sobre uma indagação: o que você sabe sobre exclusão social?
Então, Dúvidson contou a história de uma criança, que nem parecia uma criança, em seu teste de História.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Vida além da vida...

Certa vez, alguns amigos resolveram fazer um piquenique no final de semana. Eles se divertiram muito com caminhadas, banho de cachoeira e pesca. Então, todos se sentaram numa pedra para se alimentar com o lanche que Paulo, o mais jovem de todos, havia se prontificado a levar de casa para os amigos.
Paulo pegou uma cesta e uma pasta que havia guardado no carro. Todos estavam famintos, mas acabaram tendo uma surpresa.
― Paulo, o que é isto?! ― perguntaram os amigos.
― É pão e vinho.
O vento fazia esvoaçar os cabelos de todos. Carlos, o amigo mais faminto, não havia gostado do menu.
― Mas onde estão os sanduíches, sucos, frutas, leite, café, torradas, bolos, doces, tortas, pudins, biscoitos, pães, sonhos, refrigerantes?
― A cesta do Paulo é pequena, cara! ― brincou um outro amigo.
Folhas caíam das árvores. Paulo nada respondeu e retirou um livro de dentro da pasta.
― Paulo, o que é isto?! ― perguntaram os amigos.
― Isso é o pão do Espírito! ― respondeu o jovem.
― Uma bíblia?! Oh, meu Deus! ― disse Carlos, contrariado.
Neste momento, só se ouvia o barulho da água da cachoeira. Carlos sorria para os amigos e desejava dividir com eles os pães que trouxera.
― Nós precisamos agradecer a Deus pela vida que temos... ― disse Paulo.
Carlos estava visivelmente insatisfeito.
― Você enlouqueceu?! ― disse Carlos.
Paulo respirou fundo aquele ar puro de que todos podiam desfrutar.
― Amigos, olhem para este lugar. Nós temos uma cachoeira, árvores, flores, borboletas, pássaros, ar, peixes, sol. Tudo isso é um presente de Deus! Nós podemos orar a Ele agora para...
Carlos não se conteve.
― Isso é uma piada?! Eu quero comer, beber, esquecer meus problemas. Eu preciso de lazer! Mas você, você não sabe o que é ter problemas. Você é jovem, não sabe nada das dificuldades da vida...
O céu estava iluminado. Os demais amigos ficaram sensibilizados com o gesto de Paulo e discordaram da atitude de Carlos.
― Nós vamos orar com o Paulo. Ele está certo. Além disso, nós somos amigos!
― Pois eu vou é embora! ― disse Carlos.
Seis meses se passaram.
Ninguém esperava aquela notícia.
Paulo morreu de câncer.
Ele estava doente há algum tempo, mas não queria preocupar os amigos, desejava apenas dividir com eles o pão:
O PÃO DA VIDA!...