Quando meu amigo Dúvidson era um garoto, ele tinha muita dificuldade em tomar decisões.
A mãe perguntava.
― Você quer café ou leite?
Dúvidson pensava, mas não um pouco.
― ... ... ... ... ... ... ... ... ... café com leite!
A mãe perguntava.
― Você quer bolo ou sorvete?
Dúvidson pensava, mas não um pouquinho.
― ... ... ... ... ... ... ... ... ... bolo com sorvete!
A mãe continuava perguntando.
― Você quer banana, maçã ou mamão?
Dúvidson continuava pensativo.
― ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... salada de frutas!
Dúvidson tinha esse jeitinho todo especial de escolher as coisas...
Contudo, quando ele se tornou um adolescente, essa dificuldade de tomar decisões se tornou um grande problema para ele. Às vezes, ele tinha que pensar muito até chegar a uma conclusão, embora em algumas poucas ocasiões ele se decidisse mais rapidamente. No entanto, uma dúvida não lhe saía da cabeça: o jovem não sabia que caminho seguir em sua vida. Por isso, ele resolveu pedir a ajuda de seu avô, que tinha grande sabedoria.
― Dúvidson, você pode escolher o seu próprio caminho. Quando tiver dúvidas, quero que reflita em torno de um belo ensinamento trazido por um grande Mestre, que nos aconselhou a fazer aos outros aquilo que gostaríamos que os outros nos fizessem.
Um dia, Dúvidson se encontrava na escola. O professor estava finalizando sua aula de História.
― Turma, amanhã, nós teremos um teste surpresa.
Os alunos riram. O professor gostava de brincar com eles.
― Pessoal, agora é sério. Amanhã, nós teremos um teste. Vocês precisam estudar bastante. Será uma redação envolvendo a matéria...
Dúvidson não teve dúvidas nessa hora: resolveu ir correndo para casa estudar. Entretanto, no meio do caminho, havia uma criança.
Uma criança suja.
Uma criança faminta.
Uma criança sem infância.
Nem parecia uma criança.
― Ei, eu tenho fome. Minha mãe está doente. Nós somos muito pobres. Um homem roubou minha caixa de chicletes, roubou meu trabalho, roubou meu sustento.
Uma criança?...
Dúvidson não sabia o que fazer. Ele precisava estudar História. Uma criança pedia sua ajuda. O jovem lembrou-se das palavras de seu avô: e se fosse ele, no lugar da criança?...
― Eu tenho um pacote de biscoitos fechado, na minha mochila, menina. Mas, agora, conte-me a sua história...
Dúvidson não chegou muito cedo a casa. Ele não tirava aquela história da cabeça, mas ainda assim estudou História.
No dia seguinte, ele sentou-se na primeira carteira. Dúvidson estava preocupado com a prova, mas havia um sorriso em seu coração. Ele ajudara alguém. O professor de História distribuiu o teste.
― Turma, nossa redação será sobre uma indagação: o que você sabe sobre exclusão social?
Então, Dúvidson contou a história de uma criança, que nem parecia uma criança, em seu teste de História.
quarta-feira, 28 de abril de 2010
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2 comentários:
Essa história é boa demais!
Simples e profunda.
Acho que todo mundo acaba se identificando com o Dúvidson. Temos dúvidas sempre, sobre muitas coisas, mas temos grande potencial pra seguir um bom caminho.
Fica uma dica: trabalhar a história como teatro participativo com jovens dá muito certo!
Um grande abraço!
Querido,
Essa história nasceu de minha insatisfação perante as condições de miséria experenciadas por muitas pessoas no Brasil e no mundo. Essa situação de exclusão extrema é obra do egoísmo humano, e não de Deus. Como afirmava o sociólogo Betinho, quando uma pessoa chega a não ter o que comer, é porque tudo o mais já lhe foi negado. Para ele, a fome é excusão de tudo, do ponto de vista sociológico... Aprecio a literatura engajada, de denúncia social, pois ela pode ser um intrumento de mudança. O Dúvidson é um exemplo de que a transformação da sociedade começa pela mudança de cada um de nós, sendo que podemos seguir o exemplo do Mestre da Luz!...
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