Querido diário,
“Esta é uma declaração de amor. Amo a língua portuguesa.”
Com essa frase, de Clarice Lispector, pretendo refletir a respeito da necessidade do domínio da nossa língua por parte do contador de histórias...
Dispondo do conhecimento aprofundado de nosso idioma, podemos concatenar bem as ideias, com conhecimento satisfatório dos processos de coesão e coerência que envolvem os textos, podemos criar neologismos, utilizar mais e mais figuras de linguagem, explorar sinônimos e antônimos, brincar com as rimas, criar paráfrases e paródias, compor construções gramaticais mais elaboradas, estabelecer ambiguidades...
O contador saberá usar a linguagem adequada ao público, evitando ser prolixo, pedante ou fazer uso de gírias excessivas ou palavras de baixo calão.
Além disso, ele saberá interpretar bem a história que narrará e isso é fundamental para o êxito da narração.
De fato, somos artistas das palavras! E, como contadores de histórias, devemos estabelecer estratégias de promoção da língua portuguesa!
Já presenciei um espetáculo a partir do qual o narrador incentivava as crianças a listarem adjetivos, como: “Maia era bonita. Não... era mais... era... era...” E as crianças completavam: linda, maravilhosa, muito bela, fantástica, incrível!
Já vi um contador brincar com ambiguidades, como a “gatinha da vizinha”.
Já assisti a um espetáculo em que o contador brincava com os regionalismos, fazendo um trenzinho passar pelo sul (tchê), pelo nordeste (oxente) e até por Portugal (ora, pois!).
Eu já trabalhei de uma maneira bem interessante. Numa história, eu dizia que o sonho de um cachorro era conhecer o circo porque lá “tinha o palhaço... tinha o....” E as crianças completavam: mágico, elefante, leão, malabarista! Além disso, dizia que o sonho de um gatinho era conhecer um parque de diversões, porque “tinha a roda gigante, tinha o...” E as crianças completavam: o carrossel, a montanha russa, o carrinho de batida, o trem fantasma”. Finalmente, eu dizia que tinha um passarinho que tinha o sonho de conhecer o zoológico, porque “tinha o gorila, tinha o...” E as crianças completavam: o pavão, a cobra, a girafa, a pantera, a onça! Deste modo, surgem palavras de um mesmo campo semântico e eles interagem linguisticamente.
Despertar o amor pelo idioma perpassa por uma atitude de admiração pelas belezas de nossa língua, perpasse pelo combate ao preconceito linguístico, perpassa por uma atitude que eleve, e não rebaixe, a autoestima linguística das crianças! E é saber o que quer, o que pode essa língua!...
terça-feira, 7 de fevereiro de 2012
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