Criando e contando histórias!...

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Blog Literário


O objetivo deste Blog consiste na divulgação de textos literários e de atividades de contação de histórias da escritora Kate Lúcia Portela. Além do desejo de encantar, empolgar, emocionar, cativar, informar, formar, reformar e transformar este blog tem a finalidade de incentivar a prática da leitura prazerosa!... Aproveite o ensejo para conhecer um pouco mais sobre essa escritora, acompanhando algumas de suas atividades artísticas e culturais. Vale a pena conferir!...



segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Por uma pedagogia do NÃO!...

Aquele era um dia de aula normal. O professor de Artes fazia a análise de um belo quadro de Portinari, dando um destaque especial ao engajamento do pintor em relação às questões sociais.

Todos sentiam um imenso respeito por aquele mestre, principalmente Luiz, para o qual o adorado professor sempre tinha elogios. O jovem estudante queria mesmo era ser artista!...

Entretanto, um fato inusitado mudaria a vida de Luiz para sempre. Na saída da escola, o rapaz foi abordado por um homem elegantemente vestido e muito falante. Tratava-se de um traficante de drogas.

Na escola, o professor de Ciências, uma ano antes, fizera uma breve leitura, em sala de aula, de uma carta comovente escrita por um pai de um adolescente que havia se envolvido com drogas. Luiz teve essa lembrança na mesma hora em que aquele homem lhe ofereceu o tóxico.
- Não, eu não quero essa droga! - exclamou Luiz com veemência.

O traficante olhou para o lado a fim de constatar se ninguém ouvia a conversa, e ensaiou um argumento contrário.
- Mas...
- Eu tenho amor pela vida!

O traficante sentiu-se desafiado por conta da resposta do rapaz. Reconheceu que precisava reformular seu discurso para ser mais persuasivo, mais incisivo.
- Do que você tem medo, garoto?...

Luiz sentiu-se ofendido com aquela insinuação.
- Eu não tenho medo de nada! Eu aprendi que se deve dizer não às drogas e...
- Você não é homem!

Aquelas palavras mexeram com o brio do menino. Naquela fase de sua vida, tudo o que ele queria era ter jeito de homem, papo de homem, cara de homem, fazer tudo o que os homens faziam.
- Você vai me convencer de que você faz uso de drogas, de que você aceitou correr o risco de ficar viciado? Você só oferece essa droga para os outros... ─ afirmou Luiz.

O traficante regozijou-se. Conseguira fazer mais uma vítima. Do que adiantava as escolinhas fazerem campanhas de superfície contra as drogas? No mundo dos entorpecentes, há sempre argumentos para tudo, bastam ouvidos complacentes ou desprevenidos...
- Garoto, eu uso a droga, a droga não me usa!

Luiz ficou pensativo. Por um instante, o menino sentiu uma grande admiração por aquele homem tão determinado e muito, muito convincente. Ele simplesmente dominava as palavras, enquanto o rapazinho estava vivenciando o processo de construção do seu próprio discurso, onde o "não" precisara apresentar uma justificativa.

Como vencer a disputa argumentativa?

Meses se passaram. A mudança de Luiz foi sentida por todos. Em casa, a agressividade e a rebeldia. Na escola, a negligência com seus deveres. O menino que tinha um orgulho enorme de querer ser artista agora exibia os olhos tristes e atônitos. Chegara a roubar dinheiro da carteira do pai para sustentar o vício.

Um dia, Luiz foi encontrado caído em seu quarto. No hospital, os pais não deram crédito aos médicos. O filho não era um drogado. Mas a verdade prevaleceu. O jovem quis ter uma conversa com o professor de Artes. Contou-lhe, com dificuldade, toda a sua história, e lhe fez um pedido, que era para o mestre escrever um livro endereçado aos jovens, como uma forma de dar o precioso alerta: na porta de escolas, cursinhos, faculdades e no interior de muitas comunidades estão homens que têm conhecimento dos nossos sonhos, dos nossos medos e das nossas palavras: tudo aquilo que as drogas vão destruir. Os jovens não podem cair na conversa dos traficantes, ou vão cair de uma forma que possivelmente não mais se levantarão.

Luiz faleceu. Mas a sua luz não se apagou, até porque o sonho de ser artista não morreu com ele. O professor de Artes escreveu um livro, fazendo o relato da história do estudante, cujo título era: “Dizer não às drogas é uma arte!...”

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