Criando e contando histórias!...

Criando e contando histórias!...

Blog Literário


O objetivo deste Blog consiste na divulgação de textos literários e de atividades de contação de histórias da escritora Kate Lúcia Portela. Além do desejo de encantar, empolgar, emocionar, cativar, informar, formar, reformar e transformar este blog tem a finalidade de incentivar a prática da leitura prazerosa!... Aproveite o ensejo para conhecer um pouco mais sobre essa escritora, acompanhando algumas de suas atividades artísticas e culturais. Vale a pena conferir!...



quinta-feira, 17 de novembro de 2011

O semeador de linguagens (Capítulo I)

Eu sou o pai.
Para mim, essa história começou quando me tornei um mau pai, quando deixei de dar atenção ao meu filho, quando deixei de preparar o seu chocolate quente, quando deixei de ajudá-lo nas lições de casa, quando deixei de contar histórias para ele, quando deixei de jogar bola com ele, quando deixei de repreender suas más ações, quando deixei de tocar violão para ele. Enfim, quando deixei de expressar o meu amor.
Eu havia recebido uma promoção no trabalho e me tornei o braço direito do meu patrão. De uma maneira mágica e fascinante, eu passei a ser valorizado pelos meus colegas. As funcionárias me elogiavam até me deixarem lisonjeado. Minha secretária me devotava uma atenção especial. Eu passei a ser o destaque nas reuniões da empresa. Meu chefe acatava todas as minhas sugestões, de modo que eu ganhei uma nova família.
Eu já não queria nem voltar para casa.
Então, eu me casei com meu trabalho.
Minha esposa não gostou desse meu novo casamento e passei a brigar muito com ela, mas o que me tirava do sério era meu filho sempre tentando uma reconciliação entre nós.
Até que um dia eu perdi a cabeça. Meu filho acompanhava uma discussão nossa, que realmente estava ultrapassando os limites do respeito mútuo. Houve uma hora em que minha esposa, cansada de meus xingamentos, gritou comigo, e nosso filho não aguentou a barra.
Ele começou a chorar, e chorava, e chorava.
Eu não suportava mais.
― Fica quieto, Pedrinho!!! ― gritei.
Meu filho engoliu o choro com um pavor comovente.
― Eu não quero ouvir a sua voz nunca mais, nunca mais! ― berrei.
A partir desse dia, meu filho engoliu as palavras.
Ele ficou mudo de tal maneira, que nem psicólogo deu jeito.
Minha esposa não me culpou, mas eu me culpei.
Então, eu saí de casa, eu resolvi sair da história por uns tempos.

Nenhum comentário: